O fim

"Por isso, é melhor acabarmos."

E tudo acabou. Os projectos, os sonhos, a vida em comum e a relação incrivel que se tinha criado entre duas pessoas que nunca, nunca mesmo, pensaram sequer vir chegar a dizer um "amo-te" à outra. O vazio instala-se e consome toda a alegria que preenchia uma alma. A felicidade de amar e ser, finalmente, correspondido acaba num segundo com aquela troca de palavras.
"Acabarmos" acabou comigo. Lá vais tu, nesse escudo de gelo que teimas em dizer ser-te natural, seguindo o teu caminho sem mim ao lado. A caminhada que queriamos fazer juntos chega ao fim mal tendo começado.

"E já comecei a esquecer-te."

Como é possivel esquecer alguém de quem se ama? Como é que, com uma semana, se apaga da memória da pessoa todas as vivências, todos os encontros, todas as trocas de olhares que diziam tanto sem se pronunciar uma palavra, todos os beijos que nos faziam querer mais e mais... Como? Como é que uma pessoa pode ser tão efémera no pensamento e memória de outra depois de tanta coisa boa vivida? Depois de dizer que se ama?

Não te percebo.

E tenho medo. Medo de seguir sem ti, medo de nunca mais te agarrar nos meus braços para fazer frente ao mundo, de nunca mais me perder nos teus beijos que me davam a força de viver, de nunca mais ouvir o teu "Amo-te", o primeiro e único que tive.

Sim, sou um eterno romântico, um lamechas, um dramático, como dizes. Mas foi assim que eu me apresentei perante ti, sem máscaras nem segredos. Dei a conhecer-me como realmente sou, para que nunca houvesse a hipótese de dizeres "Tu não eras assim". Mas esta mesma frase saiu-me da fala tantas e tantas vezes... Porque tu não eras assim, não te deste a conhecer assim.

E o tempo passa, e a chuva cai, e eu estou aqui.

Mas que posso eu fazer? Que esperança posso ter eu? Ela é a ultima a morrer, mas tu já lhe deste a morte. E com ela, vou eu.

E escrever isto adianta de alguma coisa?