(14.30, Castelo do Queijo)
Maria: -Isto há coisas! Estou aqui há duas horas e ainda não apareceu um puto dum 205! Fodasse!
Narcisa: -Olhe minha senhora, eu vim da França e lá não há nada disto.Trabalhei 30 anos e nunca fiz greve! Nunca! Só daquela vez em que eles... já nem sei! Mas prontos, isto é uma vergonha, tenho de ir ao hospital e Mon Dieu que ninguém aparece!
Clementina: -Olhe, tem "dir" "aospital" mas eu tenho a minha patroa "àspera" desde as dez da manhã e "inda" "stou" aqui! Preciso do 500 e nada!
Maria: -Mas eu "tabaqui" e o 500 passou, minha senhora. E já cá tou desde a meia hora.
Clementina: -Só está cá há meia hora?!
Maria: -Não, fodasse! Estou cá desde o meio-dia-e-meia. Percebeu? É preciso dizer tudo, tou a ver.
Narcisa: -Lá na França ninguém fala assim.
Clementina: -Ninguém quer saber da França, senhora! Olhe, mas tá aqui há duas horas então! E já passou o 500?
Maria: -Ai o caralho! Mas a senhora não ouviu?! Fogo, parece surda!
Clementina: -Oh minha senhora, peço desculpa! Não precisa falar assim! Só "qria" saber... Foge que uma pessoa já não pode falar!
Narcisa: -Vê-se logo que estamos em Portugal. Ninguém se conhece e falam assim umas para as outras. Eu nunca disse um palavrão na minha vida, nunca! O meu pai alapava-me logo! E lá na França é que é! As pessoas, os costumes, a comida...
Maria: -Fodasse da ultima vez que comi um crepe fiquei cheia de fome. Entalei uma feijoada logo de seguida!
Narcisa: -Olhe senhora, e quê? Já viu como isto está? Votam no Cavaco depois da borrada que ele fez, só podem ser burros!
Clementina: -oh minha senhora, se estava tão bem em França, porque é que voltou? Eu vejo-a todos os dias no autocarro, por isso já cá está há anos! E eu gosto muito do meu país e tenho muito orgulho nele, com todos os seus defeitos e virtudes! E não gosto de a ouvir falar assim dele!
Narcisa: -Olhe não fale assim que foi a França que vos deu o 25 de Abril. E isto como está é uma pouca vergonha! Aqui só se preocupam com os paneleiros e os casamentos deles!
Clementina: -Deixe-os estar, cada um sabe da sua vida.
Narcisa: -Sim, mas não é normal. Lá na França não há, é proíbido.
Maria: -Oh minha senhora, lá na França também falam assim tanto? Rais parta a mulher!
(15.00, o 205 chegou)
(Os diálogos aqui inseridos, foram assistidos pelo autor deste texto, eu, e correspondem ao que de facto se disse. Os nomes são todos fictícios. Importa referir que a françoguesa, no seu destino e quando abandonou o 205, eriçou o seu dedo médio a quem a quis ver.)
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