sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Karma do 200

           Eu moro no lugar da Granja, uma zona de praia que fica perto da cidade de Espinho, em Vila Nova de Gaia. Ora, como estudo na Foz no Porto, na mui nobre Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, o único meio de deslocação possível é utilizar os transportes públicos (para já, pois conto brevemente ter um carro só para mim). Por transportes públicos entenda-se: comboio, metro e autocarro. Os três meios para um simples fim!
            As viagens de comboio e de metro até são facilmente suportáveis: lá consigo arranjar um lugar à beira de uma senhora que vai a declamar para todos e para ninguém, o quão difícil a sua vida é, ou fico-me pelo senhor que discute em altos berros as más arbitragens e falta de garra dos jogos de futebol. E os horários dos comboios, salvo raras excepções, são sempre cumpridos, e, até o metro, de cinco em cinco minutos está presente para me encaminhar para o meu destino. São transportes limpos, minimamente confortáveis, espaçosos e até música ambiente por vezes têm!
            Por sua vez, a viagem de autocarro é um transtorno, um tormento para mim. Cerca de quarenta e cinco minutos desde a zona da baixa até à zona da faculdade. E o tempo não seria o problema principal se não tivesse de partilhar o meu espaço com oitenta pessoas num autocarro (o velho e amigo 200) que se assemelha às antigas carrinhas “pão-de-forma”!
            É que em todas as paragens do 200 entram cinco a seis pessoas e saem uma ou duas no máximo (com excepção das zonas da Faculdade de Letras e Faculdade de Ciências). E o motorista do 200 insiste em que nos apertemos “porque há espaço de sobra”! Como muitos passageiros do 200 se dirigem para o Mercado da Foz, o autocarro vai sempre superlotado até ao fim da sua viagem. E concluindo, no 200 vou sempre esmagado entre duas pessoas, em pé, e com um “cheiro a humano” descomunal!
            Porque além do autocarro ser pequeno, os bancos onde os passageiros se sentam foram desenhados e colocados de tal forma, que o espaço fica muito mal aproveitado: no sítio onde estão dois bancos caberia mais um. Ou seja, mais uma pessoa a quem poderia ceder lugar, mais uma pessoa que se sentaria, mais uma pessoa que não me atropelaria para chegar à porta de saída, mais uma pessoa que não me esmagaria contra a vidraça do veículo. Ou finalmente, um lugar no 200 para eu me sentar!
            Pretendo porém salientar que sou completamente adepto e a favor dos transportes públicos! São das melhores ajudas que podemos dar ao ambiente. Mas assim como eu faço um esforço por ajudar o ambiente, os responsáveis pelo transporte de tais amigos da Mãe-Natureza, deviam compensar o nosso esforço com mais uns banquinhos, mais celeridade e, por último, mas não menos importante, mais arejamento – o “cheiro a humano” pela matina é regra!
            Os autocarros deveriam por isso ser maiores, ou pelo menos, distanciar as partidas uns dos outros com um tempo menor, permitindo que menos gente esteja num único veículo, e mais gente chegue ao seu destino com um sorriso na face! Devíamos juntar umas mil pessoas, e reclamar, mexer as perninhas, e mudar a situação!
            O pior é que ninguém se mexe… andam apenas no 200!

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