Quando perguntamos a alguém o que acha sobre um outro alguém, uma das primeiras coisas que esse alguém diz é (salvo raras excepções que por norma concernem à orientação sexual) que o alguém de quem queremos saber é boa pessoa. Ou má pessoa. Depois dizem que é gira, feia, gorda, magra, excepcionalmente inteligente ou estrondosamente burra, e por aí adiante. É então à bondade ou maldade da pessoa que nos referimos em primeiro lugar.
Mas em que critérios é que suportamos essa afirmação? Que bases é que nos permitem classificar (perdoando a expressão, porque odeio os ditos labels) a pessoa como boa ou má?
Dizer que é gorda ou magra, gira ou feia, é fácil. Basta ter dois olhos. Agora, boa ou má?
Pensemos no seguinte:
Uma pessoa (independentemente do sexo) tem diariamente actos bondosos: auxilia a velhinha a atravessar o passeio, dá esmola ao pobrezinho da esquina, paga os seus impostos a tempo e horas, respeita o vizinho, preocupa-se com as possiveis emissões de gases prejudiciais ao meio-ambiente e, por isso, desloca-se a pé ou em transportes públicos (mas apenas os alimentados por gás natural), faz voluntariado na Sopa dos Pobres, participa activamente no Banco Alimentar (não apenas na recolha dos alimentos, mas também na sua organização e distribuição), compra produtos nacionais (para ajudar a economia do país), visita periodicamente instituições de caridade,... enfim, é um exemplo para a sociedade.
E agora pensemos na pessoa que agride, dia sim, dia sim, a velhinha que lhe pede auxílio e o pobrezinho que lhe pede esmola. Não declara os seus impostos, insiste em incomodar o vizinho com música aos berros até às quinhentas da manhã, vandaliza e arrunína com a beleza da paisagem, ameaça pessoas a torto e a direito, etc, etc.
Diríamos, à primeira vista, que a primeira pessoa é boa e que esta última é má.
Mas agora, movida num acto de desespero, a "boa" dispara sobre o cônjuge após ter descoberto a traição deste.
E a "má", num acto repentino de bondade, atira-se para o meio da estrada com o intuito de salvar uma criança que, distraida, estava prestes a ser atropelada por um carro.
E agora?
Depois destes acontecimentos, a primeira pessoa passaria a ser má e a segunda a ser boa? É apenas um acto que condiciona toda uma vida de actos bondosos ou atitudes maléficas? Ou são todas as atitudes que practicamos que anulam qualquer repentina mudança de comportamento, seja essa boa ou má?
Na minha (modesta) opinião, não há boas e más pessoas.
Todos nós somos o Cisne Branco e o Cisne Negro. O Bom e o Mau. O Santo e o Diabo.
E é aí que reside o equilibrio.
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