domingo, 17 de julho de 2011

Ser Homem

Hoje, cá em casa, celebramos o 15º aniversário da minha irmã mais nova. Fizemos uma almoçarada e convidamos toda a família.
Claro que cá em casa (e imagino que em muitas outras) a festa se prolongou pela tarde e noite a dentro. Esteve sempre um ambiente animado, com boa comida e excelente companhia.
O único contra desta reunião festiva deu-se quando o meu tio, irmão do meu pai, se lembrou de me dizer uma das coisas que sempre odiei que me dissessem: "Já tens idade para ir para a Tropa".
Desde que os membros masculinos da minha família descobriram que do ventre da minha mãe, há vinte anos atrás, sairia um ser com o código genético marcado pelo cromossoma "XY", ser esse que acabaria por ser eu, que a ideia de eu ir para a Tropa quando tivesse idade já estava como assegurada. Ideia que não podia estar mais longe da verdade. Daí que sempre que me diziam (já antes dos 18 e mais insistentemente depois dessa idade) que devia ir para a Tropa, que me passava da cabeça e conversa acabava em discussão da grossa.
Depois de me ter dito "Já tens idade para ir para a Tropa", resolvi, para não partir logo para a pancada verbal (onde certamente venceria), perguntar-lhe porquê que haveria de ir para a Tropa. Ao que o meu querido tio respondeu "Porque faria de ti um homem."
Pronto, passei-me. Começou a pancadaria.
Respondi-lhe, o mais educadamente que consegui, que o que determinava o facto de eu ser homem ou não eram as minhas atitudes, os meus comportamentos e o que tinha dentro dos boxers. Não era o facto de ir ou não para a Tropa. Acrescentei ainda, para ver se ele entendia melhor e em jeito de exemplo, que não é pelo facto de uma pessoa não ter o ensino primário que deixa de ser inteligente ou que é, pelo contrário, burra (dei-lhe o exemplo claro da minha querida Lucy, a senhora que todos os dias vai lá a casa limpar e arrumar, que escreve mal e lê com dificuldades, mas que é um espanto de mulher com um espanto de cabeça). Por isso, não era pelo facto de não querer ir para a Tropa (coisa que deixei bem clara aos meus pais desde que sei o que é a Tropa), que ficaria eternamente infantil e que não me tornaria num homem.
Ao que o meu tio respondeu que dificilmente seria "um bom homem".
Aqui eu já devia estar da côr de um tomate. Mas não me queria mesmo irritar e muito menos estragar o ambiente. Por isso, tentei, com este exemplo, convencê-lo do contrário: "Desculpa tio, mas se vamos por essa ordem de idéias, se um homem só é homem se for para a Tropa, uma mulher só será realmente mulher se souber fazer a lida da casa.". Ao que ele respondeu "Exactamente!"
Acabou-se ali a conversa.
Infelizmente, muita gente pensa assim. Felizmente, sei que tenho algumas pessoas (espero que muitas) que concordam comigo. E são essas pessoas que me fazem acreditar que ainda há juízo e sensatez neste mundo. As que não concordam... Lamento que assim seja.
Enfim.

1 comentário:

  1. João: a hierarquização dos valores de determinados indivíduos não é a mais adequada aos tempos que vivemos. Mas nunca se esqueça de que quem está mal são eles e o mais que pode fazer é convencê-los com argumentos. Quando nem os argumentos são entendidos, vire costas e desista. Tal qual fez! :)

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