Acontece. Somos humanos...
À noite deitas-te e não és tu. O alterego que criaste está em controlo. É ele, ou ela, que faz cara má às tuas angústias, aos teus receios, às tua lembranças. Com ele, és livre dos pensamentos que dantes te moíam a cabeça, que te martelavam o espírito e que te pregavam com recordações que não passam de meras torturas. Meras não. Tortuosas torturas.
Mas deitas-te e ele protege-te dos perfeitos pesadelos habitados por essas dolorosas cogitações.
Na manhã seguinte, esperas que esse "ser" que idealizaste para fazer face às memórias farpadas, esperas que ele esteja lá, a ser o durão do costume.
Mas e se ele não está?
E se ao olhares no espelho o teu reflexo já não é do Mr. Hyde mas do Dr. Jekyll? Do Bruce Wayne e não do Batman? Do João e não da Jéssica?
Ficas desamparado. Dá-se a recaída. O dia já não é igual.
Olhas para os nomes das estações de combóios e aparecem-te aquelas terras por onde passavas para ir ter com ele. Dizes o nome dele vezes sem conta, sem mesmo te apereceberes disso. Vês a cara dele na cara do teu amigo.
Visualizas momentos perfeitos agora tão longínquos. Tardes de amor. Noites de prazer. Minutos, segundos, nanosegundos de alegria.
"Jéssica, onde estás?
Preciso de ti!"
Foi só uma recaída. Acontece. Sou humano.
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